Estranhas “bolas de detritos” voltam a aparecer nas praias da Costa Central de NSW e levantam alerta ambiental.

Em casos anteriores, as substâncias foram inicialmente confundidas com bolas de piche oriundas de petróleo cru.

(Imagem Reprodução/Créditos: Conselho da Costa Central)

As misteriosas bolas de detritos voltaram a surgir nas praias da Costa Central de Nova Gales do Sul (NSW), Austrália, gerando preocupação entre autoridades ambientais e moradores locais.

O conselho regional confirmou que novos glóbulos cinzentos, medindo entre 10 mm e 40 mm, foram encontrados na última quinta-feira (21) em diversos pontos do litoral, como The Entrance, Grant McBride Baths, Blue Bay, Toowoon Bay, North Shelly, Shelly Beach e Blue Lagoon.

O aviso oficial pede que banhistas e moradores evitem contato direto com o material e se mantenham afastados das praias afetadas até novo comunicado.

A recomendação segue a mesma linha de episódios anteriores em Sydney, quando praias icônicas como Bondi, Coogee, Bronte, Manly e Tamarama precisaram ser fechadas após o aparecimento dessas esferas enigmáticas.

O que se sabe sobre a composição das “bolas misteriosas”

Em casos anteriores, as substâncias foram inicialmente confundidas com bolas de piche oriundas de petróleo cru.

No entanto, análises conduzidas pela Autoridade de Proteção Ambiental de NSW (EPA) revelaram que se tratavam de resíduos humanos e domésticos, incluindo óleo de cozinha, sabão, cabelo humano e até traços de medicamentos e drogas ilícitas.

Segundo o professor Jon Beves, químico da Universidade de NSW que já examinou amostras do fenômeno em Sydney, o material tem odor extremamente desagradável e características típicas de descarga de esgoto não tratado.

“Não é preciso muita imaginação para concluir que essas bolas saíram de algum sistema de esgoto”, destacou Beves em entrevista recente.

Possíveis causas: esgoto e chuvas intensas

Especialistas apontam que o sistema de esgoto envelhecido de Sydney pode estar ligado ao problema.

Atualmente, as três principais estações de tratamento de águas residuais da cidade — Bondi, Malabar e North Head, realizam apenas um tratamento primário, antes de despejar o material no oceano através de tubulações submarinas localizadas entre 2 km e 4 km da costa.

Entretanto, no caso da Costa Central, investigadores acreditam que as bolas tenham maior relação com os esgotos locais e tubulações de águas pluviais, que podem ter sofrido transbordamento devido às fortes chuvas registradas em agosto de 2025, um dos meses mais chuvosos já documentados no estado.

De acordo com o professor Stuart Khan, chefe de engenharia da Universidade de Sydney e integrante do painel da EPA:

“Existem marcadores químicos relacionados ao esgoto humano, mas ainda não está claro como grandes quantidades de gordura e resíduos foram liberadas de forma tão repentina em áreas específicas.”

Impactos ambientais e riscos à saúde

As esferas, ao se acumularem no litoral, representam um risco ambiental e de saúde pública.

Além do potencial contato humano, a presença de resíduos farmacêuticos e químicos pode afetar ecossistemas marinhos, colocando em risco peixes, aves costeiras e outras formas de vida oceânica.

Autoridades também alertam para o risco de infecções bacterianas em caso de contato direto com as substâncias. Por isso, a orientação é clara: não tocar, não recolher e reportar avistamentos imediatamente ao conselho local ou à EPA.

O que está sendo feito agora

O conselho da Costa Central confirmou que equipes já realizaram a remoção inicial de parte das bolas visíveis e que novas inspeções estão em andamento.

Amostras foram enviadas para análise laboratorial pela Sydney Water, que busca determinar se os resíduos atuais têm ligação com os episódios de Sydney no fim de 2024 e início de 2025.

Um porta-voz da Sydney Water destacou que os testes químicos completos podem levar até duas semanas, mas reforçou que este é um processo essencial para identificar a origem e a causa do despejo.

Enquanto isso, praias seguem em monitoramento constante, e não há previsão para reabertura segura das áreas afetadas.

Histórico do fenômeno

• Outubro de 2024: milhares de bolas escuras apareceram em praias de Sydney, gerando fechamento temporário em Bondi, Coogee e Tamarama.

  
  

• Janeiro de 2025: nove praias foram interditadas, incluindo Manly, devido ao acúmulo massivo dos detritos.

  
  

• Agosto de 2025: Costa Central registra novo surto, reforçando que o problema não está restrito à capital, mas pode ter diferentes fontes.

  
  

O que esperar daqui para frente

Embora os cientistas apontem para o esgoto humano e doméstico como principal responsável, a origem exata das bolas ainda é considerada um mistério em aberto.

As autoridades ambientais reforçam que somente os testes em andamento poderão confirmar se existe uma conexão direta entre os episódios de Sydney e os recentes da Costa Central.

Enquanto isso, a recomendação permanece: evitar praias afetadas, não tocar nos detritos e aguardar a conclusão das investigações.

Esse fenômeno reacende o debate sobre a necessidade de investimentos no sistema de esgoto e tratamento de águas residuais de NSW, especialmente diante do crescimento populacional e dos efeitos cada vez mais frequentes de eventos climáticos extremos.

Referência da Matéria: TheGuardian