Fungos Mortais Criam “Aranhas Zumbis” e Espalham Mistério em Diversos Países.
- Infocusnews

- 24 de ago.
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O parasita invade o corpo da aranha, consome seus órgãos internos e altera seu comportamento.

(Imagem Ilustração/Créditos:GilAlves)
Um fenômeno assustador e ao mesmo tempo fascinante vem chamando a atenção de cientistas e moradores em diferentes partes do mundo: aranhas comuns estão sendo transformadas em verdadeiras “zumbis” por um fungo parasita recém-identificado, o Gibellula attenboroughii.
Essa nova espécie, descoberta em 2021, tem um ciclo de vida que lembra enredos de filmes e séries de terror, mas é fruto da impressionante capacidade adaptativa dos fungos.
O parasita invade o corpo da aranha, consome seus órgãos internos e altera seu comportamento. Depois de assumir o controle, manipula a química cerebral do hospedeiro, mudando os níveis de dopamina para forçá-lo a deixar sua teia e se expor em áreas abertas.
Nesse estágio, a aranha, já condenada, morre em posição vulnerável, servindo de base para o desenvolvimento do fungo, que brota para fora do cadáver e libera esporos capazes de infectar novos indivíduos.
Do anonimato às manchetes globais
O G. attenboroughii foi registrado pela primeira vez na Irlanda do Norte, durante as filmagens do documentário Winterwatch, da BBC.
Pesquisadores notaram aranhas mortas em cavernas e depósitos abandonados, com estruturas brancas semelhantes a algodão surgindo de seus corpos.
A investigação revelou que a espécie mais afetada era a aranha-das-cavernas (Metellina merianae), além de sua parente próxima, a Meta menardi.
Desde então, os relatos se multiplicaram. No Reino Unido, moradores encontraram aranhas zumbis em jardins e porões; nos Estados Unidos, surgiram casos em Minnesota e Nova York; e na Europa Central, pessoas relataram exemplares em porões e adegas.
Até mesmo na Rússia, no balneário de Anapa, moradores confundiram os cadáveres cobertos de fungo com frutas mofadas penduradas em tetos baixos.
O ciclo da morte controlada
Segundo o micologista Dr. Harry Evans, da CAB International, o processo é cruel e eficiente. O fungo penetra no corpo da aranha através da cutícula, espalhando-se pela hemocele, a cavidade interna que carrega o fluido corporal semelhante ao sangue.
Em seguida, libera toxinas que matam o hospedeiro e antibióticos naturais que preservam o corpo, impedindo sua decomposição rápida.
Com a aranha morta, o fungo continua a drenar seus nutrientes e, em ambientes úmidos, forma hastes alongadas que se projetam para fora do cadáver. Essas estruturas liberam esporos microscópicos que se espalham pelo ar, iniciando novamente o ciclo da infecção.
Estudos mostram que o hospedeiro pode sobreviver de uma a três semanas após ser infectado, mas sempre acaba sucumbindo ao controle fúngico.
Esse comportamento é semelhante ao observado no Brasil, onde espécies do gênero Ophiocordyceps transformam formigas em zumbis, forçando-as a subir em vegetações antes de morrer, garantindo a dispersão ideal dos esporos.
Uma ameaça para os humanos?
A popularidade da série The Last of Us, que retrata um apocalipse causado por fungos capazes de controlar cérebros humanos, gerou preocupações entre o público. No entanto, especialistas são claros: não há risco algum para pessoas.
O micologista João Araújo, do Museu de História Natural da Dinamarca, explica que um salto evolutivo tão extremo exigiria “milhões de anos de modificações genéticas”.
Atualmente, os fungos como o G. attenboroughii estão altamente especializados para infectar apenas seus hospedeiros específicos — no caso, aranhas de cavernas.
O reino oculto dos fungos
Apesar do medo que desperta, essa descoberta é apenas um vislumbre da incrível diversidade fúngica. Estima-se que possam existir entre 10 e 20 milhões de espécies de fungos no planeta, mas apenas 1% delas foi formalmente descrito pela ciência.
Isso significa que há um universo oculto de organismos ainda desconhecidos, com comportamentos e mecanismos que podem surpreender.
“Há muito mais fungos para encontrar”, afirmou Evans. “O reino fúngico é provavelmente o mais diverso de todos, e ainda estamos apenas arranhando a superfície.”

(Imagem Ilustração/Créditos:GilAlves)
Relatos assustadores
Casos recentes reforçam o impacto desse fenômeno na vida cotidiana. Em Londres, o paisagista Gareth Jenkins encontrou uma grande estrutura branca pendurada sob um deck de madeira, que, ao examinar de perto, revelou-se um aglomerado de aranhas cobertas por fungo, com pernas rígidas projetadas como se estivessem prestes a saltar.
Na Escócia, o fotógrafo amador Ben Mitchell descreveu ter visto o que parecia ser um algodão-doce colado sob uma folha. Dentro, a aranha morta permanecia visível apenas pelas extremidades das patas, cercada por uma membrana fibrosa criada pelo parasita.
Esses registros, ainda que macabros, têm valor científico incalculável. Eles ajudam pesquisadores a compreender os complexos ciclos de parasitismo e revelam a importância dos fungos na dinâmica dos ecossistemas, seja como decompositores, controladores populacionais ou até potenciais fontes de compostos medicinais.
As chamadas “aranhas zumbis” não são o prenúncio de um apocalipse, mas sim um lembrete da incrível engenhosidade da natureza. O Gibellula attenboroughii é apenas um dos milhões de organismos ainda não catalogados que moldam silenciosamente a vida no planeta.
Para os cientistas, cada nova descoberta reforça a ideia de que o reino dos fungos guarda segredos que podem tanto causar temor quanto abrir portas para novas pesquisas e aplicações.
Fonte: Livescience



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