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Cientistas geram óvulos humanos a partir de células da pele.

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    Infocusnews
  • 2 de out.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 8 de out.

Nova técnica inaugura possibilidade de criar gametas funcionais em laboratório, com implicações para infertilidade e casais, embora ainda esteja longe de uso clínico.


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(Imagem Ilustração-Gravidez/Créditos:Pixabay/TC-TORRES)


Pesquisadores da Oregon Health & Science University (OHSU) anunciaram um avanço científico inédito: conseguiram criar óvulos humanos funcionais a partir de células da pele.


O estudo, publicado na revista Nature Communications, representa um passo conceitual importante para a reprodução assistida e levanta profundas questões éticas, técnicas e regulatórias.


Como a técnica funciona

O método envolve basicamente três etapas principais:


Transferência nuclear: o núcleo (contendo o DNA) de uma célula da pele (fibroblasto) é extraído e inserido em um óvulo doador cujo próprio núcleo foi removido (célula “enucleada”).


Redução cromossômica artificial — “mitomeiose”: como células da pele contêm 46 cromossomos (duas cópias de cada par), era necessário eliminar metade desse complemento para mimetizar os 23 cromossomos de um óvulo normal.


Os cientistas induziram uma divisão controlada e uso de fármaco (roscovitina) para que metade dos cromossomos fosse descartada.

Fertilização e desenvolvimento embrionário inicial: os óvulos reconstruídos foram fertilizados com espermatozoides in vitro.


Dos 82 óvulos gerados no experimento, cerca de 9 %  evoluíram até o estágio de blastocisto (em torno de seis dias) — estágio inicial de embrião.


Apesar desse progresso, nenhum embrião ultrapassou o sexto dia de cultivo, e muitos apresentaram anomalias cromossômicas — ora excesso, ora deficiência, ora pareamentos incorretos — que inviabilizam, por enquanto, qualquer uso clínico seguro.


Importância e impactos potenciais


Esse experimento representa mais do que um feito técnico: é um prova de conceito para a geração de gametas humanos em laboratório — um campo chamado gametogênese in vitro (IVG, do inglês in vitro gametogenesis).


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(Imagem Ilustração-Fertilidade-Infertilidade/Créditos:Pixabay/Dr. KontogianniFIV)


Benefícios esperados


Tratamento de infertilidade: para mulheres que perderam seus óvulos (por causa de envelhecimento, menopausa precoce, quimioterapia ou outras causas), essa técnica poderia permitir que elas tenham filhos com seu próprio material genético.


Casais homoafetivos masculinos: no futuro, pode-se imaginar usar células de ambos os parceiros para criar um embrião — embora ainda haja necessidade de uma figura gestacional (útero substituto).


Estudos sobre aborto espontâneo e doenças genéticas: com mais controle sobre o processo reprodutivo, será possível investigar as causas cromossômicas de falhas embrionárias e desenvolver terapias preventivas.


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Limitações, riscos e desafios


Eficiência baixa: menos de 10 % dos embriões chegarem ao estágio inicial já mostra que o método ainda é muito incipiente.


Instabilidade cromossômica: os embriões exibiram pareamentos errôneos, cromossomos extras ou faltando fragmentos, o que torna impossível sua viabilidade ou normalidade genética.


Tempo de maturação: os autores estimam que pelo menos uma década de pesquisas adicionais será necessária antes de qualquer uso clínico humano seguro.


Aspectos ético-legais: a criação de embriões em laboratório a partir de células somáticas suscita debates intensos em ética reprodutiva, consentimento, direitos do embrião e regulamentação estatal. Especialistas já pedem diálogo público rigoroso e governança robusta.


O Prof. Roger Sturmey, da Universidade de Hull, avaliou que o estudo mostra que “cromossomos de células adultas diferenciadas podem ser persuadidos a passar por uma divisão nuclear normalmente vista apenas em óvulos ou espermatozoides” — mas observou que, por ora, “o uso clínico permanece distante”. sciencemediacentre.org


Antes deste estudo, técnicas relacionadas já vinham sendo exploradas em modelos animais. Por exemplo, o grupo de Mitalipov obtivera bebês saudáveis a partir de óvulos gerados por transferência nuclear de células da pele em camundongos.

Em março de 2024, já se falava em transformar células da pele de camundongos em óvulos funcionais capazes de gerar embriões viáveis.


Além disso, abordagens diferentes vêm sendo estudadas: reprogramar células somáticas para células-tronco pluripotentes (iPSCs) e depois induzi-las a se tornarem espermatozoides ou óvulos.


Essa via, porém, enfrenta desafios de longo cultivo, instabilidade epigenética e mutações acumuladas ao longo do tempo.


A técnica usada agora, baseada em transferência nuclear direta, evita parte dessa reprogramação prolongada.


O que esperar adiante


Aperfeiçoamento da mitose cromossômica para reduzir erros de pareamento e aneuploidias.


Aumento da eficiência de desenvolvimento embrionário.


Estudos em modelos animais mais avançados e eventualmente testes com prudência em óvulos humanos (quando autorizados)


Discussão pública ampla sobre ética, regulação e impactos sociais.


Avaliação de implicações para direitos reprodutivos, seguro genético e potencial desigualdade no acesso.


Para que essa tecnologia deixe de ser promissora e vire uma opção médica segura, será necessário superar desafios técnicos, éticos e regulatórios — o que, ao ritmo atual, pode levar uma década ou mais.


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A criação de óvulos humanos a partir de células da pele representa um marco audacioso na biotecnologia reprodutiva.


Embora seja um passo conceitual, com muitos obstáculos pelos quais passar — a descoberta abre caminhos potencialmente transformadores para infertilidade, parentalidade entre casais homoafetivos e pesquisa reprodutiva.


O desafio agora é transformar esse marco numa tecnologia segura, ética, regulada e acessível — tarefa que exigirá esforço científico e reflexão social.


Fonte: dailymail


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