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Imagem viral do objeto cilíndrico sobre Marte reacende debate: cometa interestelar ou artefato fotográfico?

  • Foto do escritor: Infocusnews
    Infocusnews
  • 7 de out.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 8 de out.

A suposta foto do cometa 3I/ATLAS feita pelo rover Perseverance exibe um traço brilhante e alongado, mas especialistas indicam que a “forma cilíndrica” é resultado de processamento de imagem.


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(Imagem:"3I/ATLAS"/Crédito:NASA/X @UAPWatchers)


Na primeira semana de outubro de 2025, uma imagem atribuída ao rover Perseverance da NASA, supostamente capturando o cometa interestelar 3I/ATLAS cruzando o céu marciano, circulou pelas redes sociais e alimentou especulações.


Nela, aparece um objeto luminoso com aparência alongada, quase metálica, que para muitos despertou comparações com uma “nave-mãe alienígena”.


Mas especialistas em astrofotografia e ciência espacial apontam que se trata muito provavelmente de um artefato óptico causado por técnicas de integração de imagem e longa exposição, e não de um objeto sólido com formato exótico.



O cometa interestelar 3I/ATLAS: o visitante de outra galáxia


O corpo 3I/ATLAS é o terceiro objeto interestelar confirmado cruzando o Sistema Solar, depois de ‘Oumuamua (2017) e 2I/Borisov (2019).


Estimativas com base em estudos recentes apontam que sua extensão máxima não ultrapassaria ≈ 46 km de diâmetro (considerando uma refletividade (“albedo”) de 4 %)


Sua velocidade relativa é extrema: cerca de 60 a 67 km/s em relação ao Sol, o que o classifica como um visitante hiperbólico, em trajetória de passagem rápida.


Em 3 de outubro de 2025, estima-se que ele tenha passado relativamente próximo a Marte, gerando uma janela de observação interessante para sondas e rovers no planeta vermelho.


Essas características — tamanho estreito e velocidade altíssima — já sugerem que capturar imagens nítidas é um desafio tecnológico e óptico considerável.


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"O fenômeno viral"


A imagem em questão foi atribuída ao uso da câmera Navcam (Right Navigation Camera) a bordo do Perseverance.


Ela mostra um traço brilhante, alongado e quase cilíndrico. A aparência incomum despertou interpretações dramáticas nas redes sociais, incluindo sugestões de que seria uma nave extraterrestre.


Segundo o astrofísico Avi Loeb, autor de teorias provocativas sobre objetos interestelares, esse “traço” seria resultado da integração de múltiplas imagens ao longo de cerca de dez minutos, durante os quais o objeto se deslocou no céu marciano.


Em um post pessoal, Loeb descreve que a faixa visível pode estar milhares de vezes mais longa do que o objeto real — uma indicação de que estamos vendo o efeito da exposição acumulada. Medium



Análise técnica: por que parece cilíndrico


A Navcam opera com resolução angular de cerca de 0,33 milirradianos por pixel, o que, a distâncias interestelares, corresponde a milhares de quilômetros no local observado.


Se o cometa estivesse no campo de visão, ele apareceria, em uma única exposição curta, como um ponto ou mancha (não alongada).


Somente ao empilhar dezenas ou centenas de exposições ao longo de minutes é que o deslocamento cria uma linha esticada no processamento final.


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O traço obtido no conjunto de imagens tem extensão projetada de cerca de 50.000 km, muito maior do que o tamanho provável do cometa (≈ 46 km). Essa discrepância reforça que a elongação é um artefato de imagem.


Caso o sinal fotografado fosse uma estrutura real com dezenas de milhares de quilômetros, deveria aparecer de modo diferente em imagens de altíssima resolução de telescópios como o Hubble, o que não é o caso.


Em resumo: a forma alongada observada não implica que o objeto seja cilíndrico, é consequência da técnica de processamento de imagens astronômicas em movimento.


Os “caçadores da foto” e como surgiu a versão de “imagem bruta”


Depois da viralização, entusiastas e pesquisadores independentes começaram a vasculhar o repositório público de imagens do Perseverance, em busca do “que poderia ser” a fotografia original. Dois nomes que se destacaram:


Stefan Burns, que compilou um lapso (timelapse) usando cerca de 9 minutos de imagens feitas em 2 de outubro, alegando ter detectado algo movendo-se rápido no céu marciano contra o pano de fundo das estrelas fixas.


Simeon Schmauß, que aplicou técnicas de sobreposição de cerca de 20 imagens da câmera Mastcam-Z, identificando uma leve mancha próxima à posição esperada do cometa. Ele divulgou o achado e que pode ser uma representação mais refinada do objeto em movimento.


Apesar do entusiasmo, nenhum dos achados foi confirmado oficialmente pela NASA ou pelos times de imagem do Perseverance até a presente data.



Adicionalmente, levantou-se a hipótese de que o traço brilhante observado poderia ser Phobos, uma das luas de Marte, fotografada em movimento com longa exposição, em vez do cometa interestelar.


Essa hipótese ganhou força em debates online e fóruns científicos como uma explicação plausível e menos espetacular. Reddit


Por que a explicação “artefato de imagem” é a mais consistente


Escala incompatível — O comprimento do traço no processamento final (≈ 50.000 km) é milhares de vezes maior que o tamanho máximo estimado de 3I/ATLAS (≈ 46 km). Tal discrepância só faz sentido se a elongação for artificial.


Limite de exposição individual — A Navcam tem limite de exposição de 3,28 segundos em cada quadro. Em uma única foto curta, o objeto não se deslocaria o suficiente para criar uma linha visível; só na concatenação (stacking) de muitos quadros longa-se a faixa.


Inconsistência com imagens em alta resolução — Telescópios como o Hubble já observaram 3I/ATLAS em outras épocas e não detectaram traços tão alongados que sugerissem um formato cilíndrico. Se o objeto fosse realmente tão extenso, seria visível de outro modo.


Alternativa plausível (Phobos) — A lua marciana Phobos é suficientemente brilhante e rápida em órbita para, em exposição longa, aparecer como linha em imagens de câmara fixa. Alguns analistas defendem que o traço observado pode ter sido Phobos fotografada em movimento.


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Moderação no discurso científico — Nem NASA nem equipes oficiais confirmaram que aquela faixa brilhante seja o cometa. O consenso provisório entre especialistas é que há explicações bem mais prováveis e naturais do que a hipótese de objeto alienígena.


Portanto, embora a imagem tenha alimentado narrativas fascinantes, a análise técnica, ainda que parcial, favorece a interpretação de um efeito óptico ou fotográfico, não de uma estrutura desconhecida.


O que vem a seguir: próximas observações e desafios


A câmera HiRISE, a bordo do satélite Mars Reconnaissance Orbiter, também capturou imagens de 3I/ATLAS durante sua passagem próxima de Marte. A divulgação dessas imagens pode compor o quebra-cabeça visual com mais precisão.


O sonda europeu JUICE (JUpiter ICy moons Explorer) poderá observar o cometa quando ele se aproximar de Júpiter em novembro de 2025.


Por enquanto, os pesquisadores seguem processando dados “precovery” (registros anteriores que podem ter captado o cometa antes de sua descoberta), como os do satélite TESS, que indicam que ele pode ter sido ativo a distâncias onde poucos esperavam. arXiv


Muitos cientistas consideram improvável que o cometa represente qualquer ameaça à Terra, dada sua trajetória e distância mínima prevista.


Enquanto os dados oficiais completos continuam pendentes, resta manter uma postura curiosa, mas crítica: imagens espetaculares atraem atenção e imaginação, porém só a revisão técnica e cruzada de dados pode revelar o que realmente observamos no cosmos.




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