Novas provas de moléculas orgânicas complexas em Encélado reforçam seu potencial como mundo habitável.
- Infocusnews

- 5 de out.
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Atualizado: 8 de out.
Análises recentes dos gêiseres da lua de Saturno revelam fragmentos orgânicos ainda mais diversos, confirmando que são originários de seu oceano subterrâneo e aumentando as esperanças de encontrar vida extraterrestre em nosso Sistema Solar.

(Imagem:Encélado/Créditos:NASA/JPL/Instituto de Ciências Espaciais)
Desde que a missão Cassini da NASA identificou, em 2005, gêiseres ativos na lua Encélado que expeliam água proveniente de um oceano subterrâneo, hipóteses sobre a habitabilidade desse mundo gelado vêm ganhando força.
Agora, dados mais recentes e novas análises comprovam que Encélado abriga uma variedade maior de moléculas orgânicas complexas do que se suspeitava, e que essas moléculas realmente se originam do interior da lua, não do espaço.
Encélado: oceano global, água e gêiseres
Encélado, sexta maior lua de Saturno, possui uma crosta gelada que encobre um oceano salgado subterrâneo.
Em sua região polar sul, fissuras (“fraturas”) permitem que esse oceano jorre para o espaço sob forma de vapor, gelo e partículas — os chamados gêiseres ou plumas.
Esses jatos foram sobrevoados repetidamente pela Cassini, que coletou partículas de gelo recém-expelidas, cujas composições químicas podem dar pistas importantes sobre o que se passa debaixo da crosta.
Pesquisas lideradas por Nozair Khawaja e colegas (Freie Universität Berlin, Universidade de Stuttgart) revisitaram dados da Cassini, especialmente de sobrevoos de 2008, mas focando em partículas de gelo “freshly ejected”, ou seja, recém-expelidas pelos gêiseres.
Isso é importante porque permite evitar modificações por radiação ou contaminação espacial que afetam partículas que ficam orbitando no anel E de Saturno.
As descobertas principais incluem:
Confirmação de moléculas orgânicas já encontradas anteriormente no material do anel (E) também presentes nas partículas recém-ejetadas, o que evidencia que essas moléculas se formam no oceano interior de Encélado, e não são apenas produto de radiação ou processamento no espaço.
Identificação de novas classes de moléculas orgânicas que não haviam sido detectadas nas plumas antes: fragmentos alifáticos; ésteres cíclicos ou heterocíclicos / alquenos; éteres / grupos etil; e, com menor certeza, compostos contendo nitrogênio e oxigênio.
Confirmação da presença de fósforo, elemento essencial para muitas biomoléculas, em forma de sais fosfatos nas partículas de gelo de Encélado.
Moléculas possivelmente precursoras de aminoácidos — aquelas que, em reações químicas certas, podem evoluir para formar aminoácidos, blocos básicos de proteínas.
Essas moléculas recém-descobertas são mais complexas que as detectadas anteriormente, indicando uma química interna sofisticada, possivelmente ativada por interações hidrotermais no núcleo de Encélado. NASA
Habitabilidade: critérios cumpridos
Para que um local seja considerado com real potencial para abrigar vida, cientistas geralmente buscam três requisitos básicos:
Água líquida — em Encélado isso existe: oceano subterrâneo salgado. AP News
Fontes de energia e condições químicas adequadas — fissuras/gêiseres e possivelmente atividade hidrotermal fornecem energia, além de gradientes redox, sais, pH moderado. Agência Espacial Europeia
Moléculas orgânicas fundamentais, contendo carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo etc. (“os elementos CHNOPS”) — Encélado já confirmou a presença de vários destes; o novo estudo fortalece isso.
Embora não haja confirmação de vida (biossinais), os achados aumentam significativamente o grau de plausibilidade de que Encélado possa abrigar vida microbiana ou formas primitivas semelhantes.

(Imagem Ilustração-Encélado-Saturno-Créditos:Pixabay/cosmos_ua)
Novas moléculas específicas encontradas
Aqui está uma lista mais detalhada das moléculas/fragments detectados ou fortemente sugeridos:
Fragmentos alifáticos (cadeias relativamente simples de carbono e hidrogênio)
Ésteres cíclicos ou heterocíclicos / alquenos (estrutura de anel nos compostos orgânicos ou insaturações)
Éteres / grupos etil (ou seja, oxigênio ligado entre carbonos, cadeias etil)
Moléculas contendo nitrogênio e oxigênio — embora algumas deteções sejam tentativas, isso reforça as oportunidades de química prebiótica mais complexa.
Sais de fósforo (fosfatos) identificados em partículas de gelo – essencial para DNA/RNA, membranas e metabolismo bioquímico.
Os resultados tornam Encélado ainda mais prioritário para futuras missões espaciais focadas na astrobiologia, sobretudo missões que possam voar através das plumas ou até pousar na região sul da lua.
A distinção entre partículas “frescas” e aquelas expostas no anel E evidencia que o material detectado realmente provém do oceano interior, o que aumenta a confiança nos sinais químicos observados.
A descoberta de moléculas orgânicas mais complexas e de fósforo indica que os blocos de construção para a vida estão presentes; isso não garante que vida exista, mas sugere que condições semelhantes às de origem da vida na Terra poderiam ocorrer.
Encélado continua se revelar como um dos ambientes mais promissores do Sistema Solar para a busca de vida extraterrestre. Os dados mais recentes mostram que:
sua química interna já produz moléculas orgânicas diversas e complexas;
essas moléculas são originárias do oceano subterrâneo, não de contaminações externas;
todos os requisitos básicos para habitabilidade estão presentes (água, energia, moléculas essenciais).
Se futuras missões confirmarem não só a presença dessas moléculas, mas também possíveis sinais biológicos — isotopia, padrões moleculares específicos, organismos ou metabólitos, Encélado poderá se tornar o primeiro mundo fora da Terra com evidência de vida.
Mesmo se isso não ocorrer, entender por que vida não surgiu apesar de condições favoráveis será importante para redefinir o que entendemos por habitabilidade.
Fonte: Theguardian
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